João Caetano
em
Apr 17, 2024
A volta dos que não foram

Shoppings nos Estados Unidos dão sinais de recuperação após mudanças no mix

Encontro da Comissão de Expansão da ABF com a Ancar Shopping Centers mostrou o novo caminho que os centros da rede estão buscando e como isso tem a ver com bares e restaurantes.

A imagem de uma praça de alimentação, com mesas compartilhadas entre diversas redes de fast food já não condiz com a realidade e menos ainda com o futuro dos shoppings.

Uma longa e detalhada apresentação discorreu sobre o papel dos shoppings desde seu início no Brasil, com o Conjunto Nacional de Brasília, até os novos formatos “festival”, em que espaços temáticos conjugam atrações para adultos e crianças.

Eventos infantis aumentam a venda de bebidas alcoólicas

Marcelo Carvalho, presidente da Ancar

A tradicional rede de shoppings tem acumulado êxitos com a criação de espaços como a 'Rua do Rio' e suas variações 'Quintal' e 'Alpendre', todos formatos abertos e voltados para famílias.

Evandro Ferrer, CEO da Ancar, destacou que essas operações são as menos rentáveis, exigindo espaço para salões com mesas exclusivas, e não rentabilizam na mesma proporção, mas a exemplo do papel das lojas-âncora do passado, dinamizam o fluxo do shopping, gerando vendas para as demais operações.

Adaptação às Novas Demandas de Consumo

Está em curso uma mudança estrutural, que sai do foco em atratividade, quando shoppings subsidiavam grandes redes varejistas que ofereciam ótimas condições de compra, e alcance amplo para o foco em frequência e intensidade.

Mudanças trazidas pelo varejo online, delivery de alimentos, em que o consumidor já não se vê obrigado a se deslocar para realizar suas compras, inviabilizam o shopping frio e passivo que espera os clientes chegarem. 

Vemos um retorno do formato “festival”, shoppings temáticos, que têm a vizinhança como tema principal. 

Festival Malls deixam de ser um nicho para assumirem o domínio, sendo capazes de criar mais ocasiões de visita, que vão além das compras, e capturar fatias maiores do orçamento ao expandir o mix para entretenimento e serviços.

Como resultado, todos os centros que criaram seus apelos festivos começam a colher os benefícios dos espaços abertos que potencializam o calendário do varejo.

Como fundo, vemos uma mudança na relação do shopping com sua área de influência, indo de alcance para profundidade.

3 passos para a mudança

  1. Buscar a real compreensão de suas comunidades imediatas
  2. Desenhar estratégias de renovação que atraiam as marcas mais empolgantes para esses públicos
  3. Calçar as sandálias da humildade e reconhecer que as partes podem ser mais importantes que o todo, outra forma de dizer que o shopping é relativamente menos importante que suas operações-chave

Casos de Sucesso

O relato do Southgate Mall em Missoula, MT, que recebeu um aumento de visitas com a abertura da operação Texas Roadhouse é representativo da enorme influência que certas operações passam a ter sobre o shopping como um todo.

Para quem não conhece, a Texas Roadhouse é uma steakhouse conhecida por seus cortes de carne à mão e uma atmosfera rústica, com funcionários dançando line-dance e cascas de amendoim no chão, criando uma experiência de jantar informal e divertida.

São diversos casos de redes capazes de injetar vida em shoppings

No Brasil, a rede Five Sport Bar ainda tem poucas unidades, mas seu modelo otimizado para alta frequência de visitas é interessante para todo e qualquer shopping.

Desde sempre, as adegas são percebidas como lugares intimidadores, permeáveis apenas àqueles com bolsos profundos e conhecimento refinado. 

Esse vazio de mercado vem sendo preenchido pela Total Wine & More, rede norte americana que oferece uma vasta seleção de vinhos, cervejas e destilados. 

Reconhecida por seu programa de educação sobre vinhos a preços competitivos, a rede está educando sua base de consumidores e ainda cria novas ocasiões para idas à loja. 

Vinhos e bebidas são categorias historicamente pouco representativas em shoppings, levando a visitas mais frequentes e novas ocasiões de compra.

Cotsco e Ace Hardware mostram a força das cooperativas de compras, em que os clientes são sócios-compradores, pagando anuidades em troca de benefícios. 

Programas de fidelidade não são desdobramentos do negócio, são o próprio negócio.

O shopping que tem uma loja dessas em seu mix, tem frequência e tickets maiores. 

Também vivendo num ambiente político polarizado, os consumidores norte-americanos têm buscado refúgio em ambientes familiares, que valorizam as tradições em receitas e hospitalidade. 

O que explica o sucesso de redes como a LongHorn Steakhouse, Freddy's Frozen Custard & Steakburgers com seu resgate da cozinha caseira do meio-oeste, até os fortes laços da Culver’s com a comunidade local, sendo celebrada por enfatizar os valores familiares e os sabores do coração da américa. 

Do outro lado da polarização, estão os públicos urbanos e sofisticados que valorizam o apelo saudável e consciente dos ingredientes.

A rede Playa Bowls, especializada em tigelas de açaí e sucos, é uma marca em ascensão em Nova York.

A Caribou Coffee se orgulha de privilegiar fornecedores locais, enquanto a CAVA acerta ao oferecer culinária mediterrânea em serviço casual e rápido. 

Enquanto uns choram, outros vendem lenço.

A crise no Subway, lá também, favorece o crescimento da Jersey Mike's Subs.

O público que começa o dia bem cedo encontra abrigo na First Watch, uma cadeia de restaurantes que serve café da manhã e almoço.

A Mod é uma espécie de Spoleto das pizzas, vem expandindo seu formato em que os clientes podem personalizar pizzas com vários ingredientes por um preço fixo.

Até o churrasco pode ficar mais leve e saudável na L&L Hawaiian Barbecue.

Essas e outras marcas foram destaque no lista das 50 marcas que mais cresceram em buscas no site Yelp, especializado em restaurantes. 

A grande maioria das marcas em destaque (70%) é formada por empresas novas, mesmo que suas estratégias sejam ‘resgatar as tradições’.

Cada uma delas vem atraindo o interesse de seus públicos, que se converte em fluxo para suas lojas, favorecendo os shoppings onde estão localizadas.

É o fim do shopping isentão

Consumidores buscam marcas que vão além da necessidade central do produto, como apenas “matar a fome”, mas que se conectem a conceitos amplos de visão de mundo.

Até então, os shoppings tinham ficado de fora dessa demanda, mas agora temos sinais claros de que o movimento político-social os alcançou.

Aqueles que souberem capturar o momento externo, têm chance de se manter relevantes, posto que uma nova dinâmica está colocada, gostem ou não.

Fotos do Evento da Comissão de Expansão da ABF com a Ancar

Marcelo Carvalho e Ivan Férrer

Cecília Ligéro Magno

Marcelo Carvalho e Ivan Férrer