João Caetano
em
May 25, 2025
Guia prático do detetive geográfico

A arte de ler o espaço como se fosse uma cena do crime

Imagine um detetive que, diante de uma cidade inteira, consegue encontrar um esconderijo apenas olhando um mapa, cruzando horários, distâncias e padrões invisíveis.

Esse é o Geographic Profiler.

Para pensar como ele, é preciso fazer as perguntas certas.

Como o crime se espalha

  • Quais são os tipos de locais conectados a esse crime?
    Ex: ruas residenciais, centros comerciais, áreas industriais, zonas escolares.
  • Onde estão esses locais no mapa?
    Mapear não é apenas marcar pontos. É revelar relações entre pontos.
  • Qual a distância e o tempo de deslocamento entre eles?
    Use diferentes modos de transporte: carro, ônibus, a pé, bicicleta.

Dica:

O criminoso, como todo predador, evita agir no próprio território imediato, mas também não se arrisca longe demais.

É o efeito rosquinha — ele circula em torno de casa, não dentro.

Condições

  • Quando os crimes ocorreram? (Data, hora, dia da semana)
  • Qual era o clima? (Chuva reduz circulação, calor aumenta presença nas ruas)
  • Qual o intervalo entre os crimes?
    Sequência rápida = impulso.
    Intervalos longos = premeditação, logística.

Dica:
Crimes são comportamentos, comportamentos seguem rotinas, rotinas revelam identidades.

Porque ali?

  • Como os locais foram acessados?
    Estavam próximos de vias rápidas? Eram acessíveis por transporte público?
  • O que existe nas redondezas?
    Delegacias, escolas, hospitais, estacionamentos, obras?
  • Como o criminoso conhecia o local?
    Trabalha por ali? Passa todo dia? Já morou?
  • Para que o local servia no crime?
    Foi apenas cenário? Ou era mensagem? Alguns lugares são escolhidos por seu simbolismo, não pela logística.

Dica:
O lugar foi escolhido pelo que é, pelo que parece, ou pelo que oculta?

O plano de fundo das vítimas

  • Em qual grupo-alvo se enquadra?
    Jovens, idosos, turistas, trabalhadores noturnos, ciclistas?
  • Onde ele não está?
    Ausências revelam tanto quanto presenças. Por que aquele local foi escolhido, e não outro?
  • O criminoso teve controle sobre o local do crime?
    Ele conduziu a vítima até lá? Ou esperou por ela em um lugar já previsível?
  • Houve deslocamento?
    A vítima foi levada para outro lugar? O crime se moveu no tempo e no espaço?

Dica:
O "alvo" não é sempre uma pessoa, às vezes, é um grupo, um símbolo, um território.

Entenda o fundo para entender o foco.

O estilo de caça

  • Que método de caça foi usado?
    • Hunter: sai em busca ativa.
    • Poacher: invade territórios conhecidos.
    • Troller: espera por oportunidades.
    • Trapper: cria armadilhas.
  • Por que esses locais e não outros?
    O que torna esses lugares atraentes, acessíveis, anônimos?
  • Qual foi o transporte provável?
    A pé = morador próximo.
    Carro = mobilidade e controle.
    Transporte público = anonimato + limitação.

Dica:
A forma de caça revela a relação entre intenção e território.

É no método que mapeamos a mente do criminoso.

Pensar com o espaço em mente

O Detetive Geográfico persegue padrões.

Ele não vê pontos num mapa, mas vetores de comportamento.

A pergunta não é onde o crime aconteceu, isso já sabemos.

A pergunta é: o que esse lugar revela sobre quem age ali?

Em última instância, todo mapa é uma confissão.